Trazendo um tema polêmico por si só, o filme Intrigas de Estado (State of Play), que foi baseando em uma minissérie inglesa exibida em 2003, o filme aborda essencialmente a relação do jornal impresso, dito tradicional, com o jornal online. Quando Cal McCaffrey (vivido por Russell Crowe), um experiente repórter especial do jornal Washington Globe, se depara com um caso polêmico envolvendo seu amigo de infância, o deputado Stephen Collins (Ben Affleck), não mede esforços para ir atrás das fontes certas e seguras, tendo apenas oito horas para descobrir o desfecho real da história. Além do conflito pessoal envolvendo verdade versus amizade, o enigmático Cal, ainda tem que lidar com a “paixão secreta” pela mulher de seu amigo.
Enquanto isso, a sua companheira de jornal, Della Frye (Rachel McAdams), o segue apurando o mesmo caso, porém, com uma sede de notícia e uma vontade impulsiva de divulgar os fatos apurados.
A divergência dos dois não está apenas no método como cada um lida com a busca pela notícia, mas também – e quase principalmente – no modo como agem e se vestem. O figurino do personagem de Russell Crowe é completamente desleixado, cabelos cumpridos e despenteados, fora a sua falta de boa forma física. Tem como característica a cautela, e a boa mania de analisar calmamente os fatos, ter contatos em diversas áreas, facilitando a sua apuração. Já a blogueira Della Frye, é uma moça muito bem apresentável, roupas alinhadas e modernas, dando um ar de juventude. Porém, tem a sede e vontade de abraçar o mundo com as pernas, deixando a desejar no seu poder de persuasão, e pouco cuidado no contato com as fontes. Os jargões, as posturas e gírias tipicamente jornalísticas, foram resultado de pesquisas minuciosas, para que todo o ambiente que compõe o filme fosse o mais fiel possível da realidade.
São colocados aspectos reais, muito comuns em grandes veículos, como a famosa censura, por exemplo. Quando os personagens começam a descobrir envolvimento de políticos de peso em esquemas ilegais e falcatruas, sua editora Cameron Lynne (Helen Mirren), toma uma postura não tão surpreendente assim: veta a matéria. A partir daí, os dois jornalistas são obrigados a correrem atrás de novas fontes, e novos fatos, fazendo com que o desenrolar do filme seja uma mistura de tensão, ansiedade e surpresa.
Ao longo da trama, a busca pelo mesmo objetivo acaba fazendo com que eles se unam. Mas, o que parece, é uma tendência sutil para mostrar o jornal impresso como modelo padrão de jornalismo. Chegado o final do filme, a matéria onde os dois trabalharam, deveria sair, teoricamente, em ambos os veículos. Apareceu apenas o impresso sendo rodado.
Algumas características que podem ser observadas pelos espectadores são, sem dúvida, os cenários muito bem elaborados. Cada um, assim como os figurinos e jargões, foram propostos para trazer mais realidade à trama. E, para que isso acontecesse tão bem, o jornalista de cidades do Washington Post – que serviu de inspiração para criação do Washington Globe – R.B. Brenner, tornou-se praticamente um guia para o desenrolar estético do thriller.
Intrigas de Estado sai da esfera do gênero policial, alcançando a qualidade de filem excelente, onde aborda temas atuais, com bons diálogos e personagens muito bem desenvolvidos. Russell Crowe e Ben Affleck desempenham seus papéis de forma brilhante, num enredo muito bem construído. Além disso, apontam aspectos jornalísticos pontuais, que nos questionam se existe uma forma correta de atuar jornalisticamente – e isso desde a apuração, até a publicação.
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